Eugenio Tavares.org Biografia e Obra    
 
Entrada do Sitio Contactos
 
Eugénio Tavares
Pesquisar EugenioTavares.org Notícias de eventos culturais relativos a Eugénio Tavares A Obra Factos biográficos

O Poeta e Pensador no seu Isolamento da Praia de Aguada


Na última década da sua vida, após a morte de seu pai adoptivo, Eugénio herdou a propriedade de Aguada e vai ali passar grande parte dos seus dias. Escreve Luís Romano, o sobejamente conhecido escritor Cabo- Verdiano:

"Dolorosamente ferido, isola-se como um eremita num dos locais mais sombrios da Ilha Brava: Aguada. Aí reside esmagado entre a pressão de duas montanhas desoladas, tendo como visão livre o panorama do mar, delimitado ao longe pelo vértice dessas rochas verdadeiramente tenebrosas. Aí viveu escrevendo mornas e falando com o mar nos seus solilóquios de desamparo.

  Caminhos de ET entre Vila Nova sintra e sua casa em Aguada

Como peregrinos fomos a Aguada de onde guardamos estas impressões: - À nossa volta, rocha braba, que lembra rescaldos vulcânicos, a transformar Aguada num verdadeiro e quase inacessível ninho d´águia. Sim!, porque Eugénio Tavares, na Poesia Nativa, Caboverdiana, foi uma águia. Por isso, e por instinto, escolheu lugares de dificil acesso. A fim de transformar o sentimento poético numa espécie de sublimação que ultrapassa tudo quanto somos capazes de descrever.

Poeta condenado ao isolamento, talvez pela incompreensão humana, talvez por uma determinação sobrenatural, o que nos tortura e prende a atenção é a escolha desse refúgio desterro onde veio consumir os últimos tempos da sua existência, longe de tudo e de todos, mas perto da grande fonte que lhe insuflou energias para evocar e lutar: o Mar!

Uma nesga do mar que daquí se vê, entalado na estreiteza da garganta de um vale, mas que ele podia contemplar a toda a hora e trocar segredos transcendentes: porquê esta constância do mar? Destino? Ninguém sabe! Com Eugénio Tavares foram-se os mistérios da sua vida, dos seus amores ilimitados, das suas paixões intensas, da sua morte inesperada".

Luis Romano

Nas raras vezes que era visto na Vila Nova Sintra, vinha tratar das flores do seu jardim e não passava despercebido aos olhares de morabeza do povo para com o seu Poeta.

O Poeta sob o olhar de morabeza do seu povo, no Jardim com o seu nome

Passeio a Aguada, Benção da Fonte e Missa Campal

Escreveu o Padre António Nogueira, Missionário Católico, em Abril de 1930, a propósito da Missão na Ilha Brava:

"Mas o que mais me sensibilizou foi um passeio até a Aguada. Tinha-me pedido o meu chorado amigo Snr. Eugénio Tavares para lá ir benzer uma fonte que tinha secado. Ao domingo era impossível; os meus deveres paroquiais não me dão folga,e marquei uma quinta-feira.

Casa do poeta Eugénio Tavares, no lugar de Aguada, no dia da benção da Fonte.

Entretanto a notícia espalhou-se e todo o povo da vizinhança queria assistir. O sítio da Aguada fica muito longe da Vila, e os caminhos são feios. De manhã, às oito horas, depois de celebrar, lá vou subindo a montanha até ao sitio do Mato Grande; muitos convidados, mais impacientes de lá chegarem, tinham-me precedido. Mas ao chegar ao alto de Mato Grande, uma verdadeira onda de povo me esperava. Algumas velhinhas nunca me tinham visto, por isso vieram ao meu encontro e perguntavam: "é este Nhô padre?" e tôdos queriam beijar a mão; tive que parar e fazer-lhes a vontade. Algumas diziam: "Nós hoje estar grandes, ter Nhô padre em noce terra".

E perguntavam-me: "Nhô padre gosta de noce terra?". Sim, estou contente com tôdos, respondia eu. "Deus conserve Nhô connosco", diziam depois. Para entreter conversa, perguntei ainda: é longe? - Já andou um têrço do caminho.

Vamos seguindo, uns a pé outros a cavalo; mas agora descendo sempre. Chegamos ao sítio da Garça e depois ao da Baleia, e a comitiva ia engrossando sempre: aqui, são pastores que me saem ao caminho pedindo para abençoar os seus gados e a sua terra; acolá, são famílias de pescadores, pedindo também a bênção, e só às 11 horas lá chegamos à Aguada.

Eugénio Tavares, com algumas dezenas de amigos, já me esperava. Procedeu-se então à bênção da fonte. Tôdos se descobrem, e no fim o povo entoa alguns cânticos religiosos. Eugénio Tavares discursa e fala com entusiasmo; faz profissão da sua fé católica, e pede a Deus para que faça sempre jorrar a água tão necessária para a vida daquela região. E dirigindo-se ao povo, pede-lhe que una as suas orações às do Ministro de Deus, para que possam ir ali sempre colher o precioso líquido. Mais alguns cânticos, e seguimos para a pitoresca vivenda do malogrado Poeta. Tinha ele erguido um bonito altar ao ar livre, com as imagens de N. Senhora e Santo António, ali se rezou o terço e cantou-se com fé. O Povo parecia não querer abandonar o lugar, e também a mim me apetecia passar lá alguns dias a descansar e a fazer uso daquelas águas tão bicarbonatadas e radioactivas, que muito bem me fariam nos meus rins. Talvez a minha nefrite ficasse aliviada, mas nem sequer a noite pude passar, como tencionava. Uma chamada urgente para ir acompanhar um cadáver à ultima jazida fazia-me abandonar aquele doce convívio e regressar apressadamente à vila.

O MIssionário, Padre António Nogueira, benzendo a Fonte no Lugar de Aguada, propriedade do notável Poeta e Orador, Eugénio Tavares.

Muitos lá ficaram ainda; Eugénio Tavares deu almoço a tôda aquela mole de gente. Nas vésperas, os pescadores da vizinhança tinham pescado muito peixe e ofereceram-no generosamente para a festa. Esta comunhão de sentimentos edifica e lembra a verdadeira caridade dos tempos apostólicos. Tôdos comeram até ficarem saciados. Fez-me lembrar o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. O povo seguia N. S. J. C. para o ouvir não se lembrando de comer, mas Ele providenciou para que não lhes faltasse comida."

Informações adicionais

 

Página anterior  Topo  Página seguinte
Biografia  Obra  Contactos  Notícias  Pesquisar
© 2004-2013 Todos os direitos reservados | Eugénio Tavares.org