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Eugénio Tavares
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Poesia

Hinos religiosos compostos por Eugénio Tavares

A FÉ E A RELIGIÃO DE EUGÉNIO TAVARES

Eugénio Tavares foi baptizado na Igreja de São João Baptista na Povoação, hoje Vila Nova Sintra, Ilha Brava, pelo Cónego Vigário, Guilherme de Magalhães Menezes, a cinco de Novembro, tendo nascido a 18 de Outubro de 1867.

O Padre António Nogueira acompanhou o seu cortejo fúnebre desde a sua casa até à sua campa no cemitério do Lém.

Três meses antes da sua morte, chamou o Padre António Nogueira, para lhe benzer a fonte da sua propriedade, na Praia de Aguada, que vinha diminuindo o caudal de água. Deixou dito que a poesia religiosa o acompanhava nos últimos anos de vida e sobretudo durante o seu isolamento na Praia de Aguada.

Conclui-se que Eugénio era um homem de fé e que do berço até à morte, professou a Fé Católica.

Todavia, nunca se deixou ficar prisioneiro da Igreja Católica, nem manietado pelos padres, exibindo sempre a sua liberdade de espírito e de opinião em matéria de fé e religião.

Nutriu muita simpatia pela Igreja Nazarena e sempre que solicitado, acompanhava os Nazarenos numa atitude ecuménica e universalista própria do seu espírito de homem livre. Teria gostado da modernidade e da nova cultura trazida pelo protestantismo.

Crentes da Igreja do Nazareno na Ilha Brava, 1928/1930

A Igreja do Nazareno chegou a Cabo Verde pelas mãos do primeiro pastor protestante, João Dias, e iniciou o seu culto na Vila Nova Sintra então denominada Povoação.

Eugénio era compadre e amigo do Pastor João Dias e isso causou-lhe muitos dissabores pois os padres católicos não viam com bons olhos a presença de Eugénio no meio dos Nazarenos. Chegou a haver uma certa polémica, mas Eugénio não recuou perante os padres e houve períodos de longa polémica em que Eugénio defendia a liberdade religiosa e de culto a favor dos nazarenos.

Alguns escritos revelam posições anticlericais. Eugénio até chegou a ser professor contratado numa escola custeada pelos nazarenos. Nesse tempo, fez vários hinos e cânticos para a Igreja Nazarena.

Para o Céu

Para o Céu, ai para o Céu,
Sob o espírito quem em Cristo renasceu:
E o Cristão, no eterno lar,
Nem depois da morte deixa de cantar.

Para a frente, ai, para a frente,
Marcha sempre o bom soldado de Jesus:
Leva na alma a fé ardente,
E na mão como uma espada hasteia a cruz.

Para Deus, ai, Para Deus,
Corram todos a abraçar-se a salvação:
Rompa o Sol os negros véus
Que mergulham na tristeza o coração

Alegria, oh alegria
Dá-nos crença, dá-nos fé e dá-nos luz.
Seja hoje o grande dia
De confiarmos nossas almas a Jesus.

Do teu trono, ai do Teu trono,
Sorri e brilha como um príncipe moreno:
Glorifica o Nazareno,
Sol risonho, Sol, desperta do Teu sono.

Eugénio Tavares, 1920


Ergo os olhos

Ergo os olhos meus
Ergo-os sem temor
Ergo-os para Deus
Que me amparou na minha dor

Coro:

Oh Deus! Consolo dos aflitos,
Leva minha alma em Tua mão
Inunda em paz os recônditos
Do meu rendido coração.
Fonte da vida universal,
Causa santíssima do Amor,
Redime e salva o pecador
Salva-o da dor, livra-o do mal.

Em um só momento
Venço o negro horror
O arrependimento
Dá-me outra dá-me outro amor.

Hei-de ser a luz,
Que jamais se apaga,
Firme como a Cruz
Que doma o vento e amansa a vaga.

Eugénio Tavares, 1920

Instalada a República em 1910, Eugénio perfila-se com os nazarenos na defesa da liberdade religiosa lutando para que as duas religiões coexistissem na sua Ilha.

Como republicano deu então um grande apoio à causa da Liberdade Religiosa e deu apoio à Igreja Nazarena que vinha conquistando certas áreas da sociedade. O Protestantismo trazia as «Novas de Alegria » e uma nova cultura que agradou algumas camadas da sociedade. Foi então, que o Poeta compôs vários hinos para os Nazarenos e estalou um certo conflito com os Padres Católicos.

Constou que o Poeta nutri uma certa paixão por uma linda crioula, filha do compadre e Pastor João Dias, a quem chegou a dedicar não só os hinos mas também algumas mornas tal como a Bidjiça. Esses hinos são de rara beleza e ainda hoje são cantados pelas comunidades de expressão portuguesa pelo mundo fora. Já foi traduzido em inglês e noutras línguas. Alguns admitem a conversão de Eugénio, mas isso não passa de uma interpretação que não se consegue confirmar interpretando a vida de Eugénio.

Os Nazarenos ou os Protestantes como eram conhecidos traziam uma nova Religião Cristã e isso conquistou muita gente, mas a Eugénio só foi no aspecto cultural.

Informações adicionais

FORMAÇÃO DA PRIMEIRA IGREJA NAZARENA, segundo o Livro "Primórdios do Evangelho"

"Neste Capítulo, João José Dias, já ordenado para dirigir o trabalho de Deus em Cabo Verde, destaca-se como herói, não só porque conseguiu reunir crentes de várias denominações e formar com eles um bloco único, como também pela coragem demonstrada na abertura de uma casa para a pregação pública do Evangelho, acto que estava proibido na altura, como podemos ver do artigo 130º do Código Penal então em vigor."

Primeiro Pastor e Fundador da Igreja do Nazareno, na Ilha Brava, Rev. João J. Dias

Francisco Xavier Ferreira editou um pequeno manual intitulado "Primórdios do Evangelho em Cabo Verde", onde nos diz claramente a posição de Eugénio Tavares perante a Igreja Nazarena.

Capa do livro "Primórdios do Evangelho em Cabo Verde"


Contra-capa do Livro "Primórdios do Evangelho em Cabo Verde"

Nesse pequeno manual lê-se a posição de Eugénio Tavares perante a Igreja do Nazareno:

" Por essa altura algumas pessoas eminente's da Ilha se uniram à Igreja e deram o seu contributo à Obra. Entre estas destacam-se os poetas Eugénio Tavares e João José Nunes. O primeiro era muito estimado pelo povo e respeitado pelo seu saber e bondade. Escreveu alguns hinos e os musicou. O segundo foi seu discípulo e grande admirador. Escreveu também muitos hinos principalmente para as celebrações do Natal."

in "Primórdios do Evangelho"

Ponta Achada: local da fundação da primeira Igreja do Nazareno

Ponta Achada é dos recantos mais bonitos da Vila Nova Sintra e funcionava como que uma aldeia dentro da outra aldeia ao tempo de Eugénio Tavares. Aí vivia o Senhor João J. Dias e mais famílias dos americanados de um certo poder económico. Aí se construiu o primeiro templo nazareno da ilha.

Suas casas branquinhas e bem caiadas, suas crioulas lindas e trigueirinhas, bordavam nos seus peitoris e se acotovelavam à janela a ver gente que passava.

A vista sobre o Pesqueiro Vinagre e sob o gigantesco morro do Mato Grande convidava a uma vida romântica, e à contemplação. Os caminhos por entre hortas e jardins eram um regalo e de uma natureza sem igual.

Aí, por volta das cinco horas, quando o Kiss me fechava as suas pétalas, e a madressilva anunciava o anoitecer com o seu suave e doce perfume, tornava o local de um romantismo sem igual.

Por isso, Eugénio Tavares gostava à tardinha de passar pela Ponta Achada, para ver as lindas crioulas, bordando os seus enxovais, ou tagarelando à janela.

Reza a lenda, que o Compadre e Pastor João Dias, esperava o Eugénio muitas vezes para filosofar rever os evangelhos, e preparar melhor um sermão dominical.

Mas um dia, quando uma dessas crioulas partiu para América, o Poeta ficou mergulhado numa grande tristeza, pois ela afinal era já a sua paixão, não obstante a diferença de idade. Dizem que a crioula era uma das filhas do seu compadre Nhó Djon Dia.

Foi quando o Poeta pegou na sua guitarra e compôs a Morna Bidjiça. Na morna ele canta a sua mágoa e até pede ao mar do Pesqueiro Vinagre que caso um dia ela voltasse que o avisasse para a puder repudiar e pôr um catchor no seu lugar.

Henriqueta Tavares de Sena, a irmã de Eugénio Tavares, ironizava com muita graça que o Poeta não ia a Ponta Achada para tratar da sua alma e das religiões, mas sim para tratar dos seus amores e paixões com as crioulas da Ponta Achada.

 

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