Cabo Verde de luto - Morreu Eugénio Tavares
Decorria o dia 1 Junho de 1930 e pelas onze horas da manhã Eugenio Tavares sentado a uma cadeira de baloiço na sua casa da Vila Nova Sintra recebia a visita do seu amigo Pedro Castro e seu sobrinho José Medina e Vasconcelos. Os amigos vinham a um habitual cavaqueio narrar ao poeta um facto insólito e ridículo que decorria ao nível da governação da Colónia. Ouvida a história com muito interesse, os três remataram a conversa com uma estrondosa gargalhada, quando Eugénio Tavares deixou-se inclinar, fulminado por uma angina de peito.
Morria assim, subitamente, aquele que em vida sempre se riu das fraquezas e do ridículo que ensombra tantas vezes certas áreas do Poder. Toda a população se sentiu envolvida num grito de morte e de luto. Houve quem dissesse que a Brava iria acabar como o seu poeta. As ruas de Nova Sintra vestiram-se de flores para passar o cortejo fúnebre que ao som de mornas dolentes levou o seu ente querido a sepultar no cemitério do Lem. Cabo Verde inteiro vestiu-se de luto.
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Eugénio Tavares, o Grande Lírico, o Excelso Panfletário, a caminho da sua última morada |
O DESCANSO FINAL
Um gigante assim certamente teria de vergar um dia, sob o peso de tantas emoções!
Qual meteoro varando curta existência numa terra de octogenários, a morte veio subitamente e levou o poeta aos 63 anos de idade, quando então, cuidando de flores, se dedicava a evocar os seus amores de juventude compondo e musicando Mornas, com os velhos companheiros de infância.
E foi na modéstia de um viver envolvido de simplicidade que um dia se despegou de nós, em plena conversa de amigos, num instante, tal qual uma estrela que riscasse o Firmamento para nunca mais, um dos mais ilustres filhos da Terra Cabo-verdiana. Entretanto cantara havia pouco:
Bidjiça tem um amostra certo
Pá nu contá co morte perto
Na Sol di entardecer de idade
Quando é Sol brando, Sol di Sodade.
Texto de Luís Romano
Escreveu o Poeta Pedro Cardoso, no seguimento da morte do seu amigo e colega:
"À Memória de Eugénio Tavares
Roçou-lhe a fronte a Morte e muda resvalou
Ao chão a lira de oiro. Ah! do cisne mavioso
Nunca mais se ouvirá o canto melodioso .
Aos páramos do Além para sempre se alou!
Sim, da Imortalidade, o pórtico radioso,
Ei-lo transpondo, enfim, no derradeiro voo.
Não morreu o teu sol, ó Brava! Transmontou
Para seguir noutro céu mais vivo e esplendoroso!
Nunca mais se ouvirá aquela voz sublime
Cantando o Amor e o Bem e profilando o crime
Com o ardor de Jesus e a coragem de Anteu!
Ó Brava, nunca mais! Mas no tempo da História,
Em áureo pedestal erguido, à luz da Glória,
Eterno viverá o teu Divino Orfeu!"
Pedro Cardoso
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Lê-se na sepultura do Poeta: "Homenagem à Memória do Poeta Eugénio Tavares, do Governo da Colónia de Cabo Verde, 1940" |
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Poesia "Immortalis", por José Lopes, para ser recitada pelos alunos da escola, na campa de Eugénio Tavares |
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Informações adicionais |
MISSA DE SUFRÁGIO
Em sufrágio da alma de Eugénio Tavares, excelso poeta cabo-verdiano, que com tanto sentimento e génio cantou a alma da sua terra, honrando as Letras Portuguesas, o Governador de Cabo Verde, Coronel Guedes Vaz, convida a população da cidade da Praia a dar a sua piedosa assistência à Missa do Oitavo Dia, que se realiza na próxima segunda feira, nove do corrente (Junho de 1930) pelas 10 horas na Igreja Paroquial desta cidade.
In Boletim Oficial, Nº. 23, 7 de Junho de 1930
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